quinta-feira, 7 de abril de 2011

Gírias do Funk

Abalar: Causar boa impressão.
Alemão: Pessoa de caráter duvidoso. Falso, duvidoso, velhaco.
Aparar pela rabiola: Fazer sexo anal.
Arroz: O cara que só anda acompanhado de várias mulheres mas não está namorando nenhuma.
Beca: Roupa
Bifão: O cara que só anda acompanhado de várias mulheres mas não está namorando nenhuma.
Boca de Veludo: Garota que dizem que faz sexo oral.
Bolado: Surpreso, espantado, perplexo.
Bombado: Lugar animado, agitado.
Bonde: Fileira. Grupo de amigos da mesma comunidade.
Bucha: Pessoa inconveniente, importuna, safado.
Buzaum: Ônibus, condução. Ônibus grátis das galeras.
Cachorra: Vadia.
Caô: Mentira, Boato.
Caozeiro: Quem mente demais.
Cap (quép): Boné
Cata-Mocréia: Pessoa que vai em porta de escola seduzir as alunas na
hora da saída.
Chapa Quente: Lugar que o clima é agitado.
Cidade: Centro do Rio: Castelo, Praça XV, Glória, Cidade Nova, etc...
Coiote: Gay enrustido.
Colar com: Andar junto com, se aproximar de.
Concurso de Galera: Baile que funk que realiza etapas de concursos diversos para unir as comunidades.
Conspirar: Ser falso com os amigos.
Corredor: Espaço que divide o Lado A do Lado B.
Cortar na mão: Tomar a namorada de alguém.
Cumpadi: Amigo, camarada, companheiro, cara.
Dar uns cortes: Transar com uma mulher.
Demorô: Isso aí, sim.
Do outro lado da Poça: Niterói e São Gonçalo.
Engole-Míssil: Garota que dizem fazer sexo oral.
Falou (Falô): Tchau, até mais, "ah, tudo bem!".
Farofeiro: Quem mora distante da praia e a freqüenta levando comidoria.
Pessoa que fala alto, é inconveniente e gosta de se mostrar.
Fazer a união: Juntar as comunidades.
Gogó: Pessoa que mente ou a própria mentira que ele conta.
Incorporar: encarnar o mau, o diabo.
Já É: É isso aí.
Língua de Tamanduá: Sujeito fofoqueiro, cagueta
Mala: Pessoa chata.
Maneiro: Legal, sensacional, simpático.
Martelão: Pênis
Mascarado: Falso, que é contrário do que fala.
Mel: Bom. Ficar um mel: Ficar bom.
Mercenária: Mulher interesseira.
Mijar no meio do vaso: Ter intimidade dentro da casa de alguém.
Morô?: Entendeu?
Mulão: Grupo de muitas pessoas.
Mulher Chumbinho: Mulher com doença, com HIV (AIDS)
Muquirana: Que tem má intensão, malvado, traiçoeiro.
Não dá camisa: Caminho errado. "confusão não dá camisa a ninguém"
Nínguem merece: Chatear.
Olhões: Os funkeiros.
Osso da borboleta: Estar numa situação desfavorável.
Pancadão: Batida grave do miami bass.
Passar o cerol na mão: Ficar com alguma mulher.
Passar o rodo: Atacar.
Patrão: O Dono da boca.
Pegar pra criar: Fato de seduzir uma garota novinha com o intuito de
possuí-la, mais tarde, quando estiver com corpo formado.
Pela Saco: Pessoa importuna, que chateia os outros.
Pisante: Tênis
Pixadão: Quem está de bobeira.
Poça D´Água: Baía de Guanabara.
Popozuda: Mulher com a bunda grande.
Porpurinada: Mulher bem tratada, cheirosa.
Potranca: Mulher boa de cama.
Preparadas: Mulher fácil e experiente.
Presepeiro: Pessoa que faz uma promessa e procede com safadeza. Não cumpre o que promete.
Puxar o bonde: Formar um grupo de galeras no baile.
Rala peito: Sai fora, vaza
Rapeize: Rapaziada.
Responsa: Confiável, Agradável, divertido.
Rolé: Passear, Andar sem compromisso.
Sangue Bom: Pessoa de qualidade, boa índole.
São Gogô: Cidade de São Gonçalo.
Shock Legal: Muito bom, Excelente.
Simpático: Pessoa falsa.
Style: Estar muito bem arrumado.
Tá dominado: estar sob controle ou invadido.
Tá ligado?: Entendeu?
Tchutchuca: Garota bonita.
Tecido: Estilo de se vestir, tipo de roupa.
Tigrão: Homem de aparência grotesca que consegue namorar mulheres bonitas.
Tomar bola: Sofrer prejuízo, dano. Sair lezado.
Uva: Bom. O baile tá uma uva: O baile tá bom.
Vai enganar Teteu: Expressão que significa "Eu não acredito nisso".
Vala: a própria morte. "se você der mole vai pra vala"
Veneno: bebida alcólica.
X9: Informante.
Zoar: Agitar, fazer agito

Sou feia mas tô na moda

Dançarinas do Funk

Até algum tempo atrás as dançarinas eram chamadas de cachorras, tchutchucas, depravadas, galinhas, potrancas e vagabas, agora os apelidos estão mais carinhosos, os tempos são outros e o pessoal do funk percebeu que o bacana é destacar e elogiar os pontos positivos das mulheres.

A primeira foi a Andressa Soares ex-dançarina do MC Creu, apelidada de Mulher Melancia devido seu enorme bumbum, a parceira Daiane também recebeu um apelido carinhoso, a Mulher Jaca, que igualmente a fruta, é feia, tem casca dura, mas é gostosa.

Quem pensava que iria parar por aí, teve uma surpresa muito agradável, os criativos funkeiros aprontam mais uma. O Mr. Catra para concorrer de igual para igual com o Creu, lança a Yani de Simone, mais conhecida agora por Mulher Filé, que com seu gostoso corpo até mesmo os vegetarianos mais convictos são capazes de sair da dieta, comem e lambem os dedos.

Com a saída de Andressa Soares do Creu, uma substituta deveria ocupar seu lugar, é então que aparece dançando em um dos shows do MC a Ellen Cardoso, conhecemos assim a Mulher Moranguinho, mesmo não sendo grande como uma melancia é saborosamente igual.

Com suas vozes desafinadas e músicas pra lá de sem graça, os funkeiros descobriram finalmente como chamar a rapaziada para os bailes funks

Entrevista feita em 2005 pela Revista Marie Claire

Fenômeno genuíno da favela, a carioca Tatiana dos Santos Lourenço circula à vontade pelo mundo das socialites da zona sul. Seu escracho explícito, já acoplado ao codinome Quebra Barraco (transa, na gíria funk), arranca aplausos nos bailes de subúrbio e nas cintilantes passarelas da elite. A princesa Paola de Orleans e Bragança, por exemplo, delirou na pista durante o seu show, na festa do estilista Ocimar Versolato, há quatro meses. Para contagiar públicos tão distintos, Tati abusa das letras apimentadas, que descrevem preferências sexuais sem pudor. Fora dos palcos, no entanto, essa moça de 25 anos, que foi mãe aos 13, se revela acanhada com a fama.

Avisa logo que não gosta de dar entrevistas e esta talvez seja a última. Em um discurso pontuado por frases curtas, e por vezes ríspidas, ela conta que o universo dos desejos de consumo sempre foi estranho à realidade do lugar onde nasceu e cresceu, a Cidade de Deus. Na mesma favela que inspirou o violento filme do diretor Fernando Meirelles, ela se sente protegida: "Fora daqui é que tem risco".

A caminho do terceiro CD, sondada por grandes gravadoras, Tati se dá ao luxo de recauchutar o visual com um pacote de cirurgias plásticas programado para o início deste ano. Mas não abre mão de viver entre os seus, na comunidade. Foi lá que Marie Claire a encontrou, primeiro no apartamento da mãe, depois sentada no meio-fio e, por fim, na varanda da casa da comadre, em um fim de tarde chuvoso no Rio de Janeiro.

Marie Claire A sua frase "sou feia, mas tô na moda" virou hit. Ela ainda se aplica?
Tati Quebra Barraco Claro. Nada vai mudar a minha personalidade. Sou feia, estou na moda, mas um dia passa. Tem muita casa de família aí para eu trabalhar, ser babá, sei lá. Quando a fama passar, à toa é que não vou ficar.

MC O que você faz para ficar mais bonita?
Tati Vou ao salão toda semana, no Méier [zona norte], faço escova e unha. Compro as minhas roupas na Gang [grife preferida das funkeiras, famosa pela calça que "levanta o bumbum" das mulheres].

MC Que mulher você acha bonita?
Tati A Sheila Carvalho, as meninas do programa "Caldeirão do Huck". Tem muita mulher bonita por aí, dá até raiva [gargalhada]. Não tenho olho grande no que é dos outros, cada um tem as suas coisas. Mas essas mulheres, com esse corpo, dá vontade de dar nelas.


C O sucesso mudou muita coisa na sua vida nesses últimos quatro anos?
Tati São seis anos de sucesso. Desde 1999 [quando passou a ser conhecida no Rio] vou para o shopping e todo mundo me reconhece, me pára.

MC Mas no início você só era conhecida no Rio e não recebia tanto jornalista em sua casa...
Tati Até vinha, um e outro. Quando estourou mesmo [em 2004], foi um caos. Passou a vir mais gente quando a Fernandinha Abreu cantou a minha música no Rock in Rio: "Se tem amor a Jesus Cristo..." [canta].

MC Você gosta da fama?
Tati Para ser sincera, não gosto. Não escolhi ser MC [mestre de cerimônia funk]. Aconteceu. Uma coisa é escolher, outra é acontecer. Não estou acostumada com esse ritmo. Toda hora tem um me ligando, vindo aqui. Quando não quero atender, a pessoa quer saber onde estou. Isso tudo aconteceu de um dia para o outro. A partir do ano que vem, não vou mais dar entrevista para ninguém. Não gosto, não ganho nada com isso. Para que gastar três horas numa entrevista? Só para a minha cara aparecer numa revista?

MC Como você era antes do sucesso?
Tati Mudou tudo. Antes, não esquentava a cabeça. Os meus filhos sempre foram criados com a minha mãe. Eu ia para a pista, chegava, bebia todas. No outro dia, eu acordava, arrumava a casa, fazia um curso de cabeleireira, trabalhava na cozinha da creche da favela.

MC Não tinha sonhos de criança?
Tati Nunca pensei no que ia ser quando crescesse. Depois botei na cabeça de ser cabeleireira, que é uma coisa que dá dinheiro e curto muito. Fiz curso de estética e queria fazer um de tinturista e escovista. Mas acho que não teria paciência de botar cabelo como eu boto [
Tati faz megahair uma vez por mês, numa sessão que pode durar até 12 horas].

Cultura Funk

  • Baile de corredor

Entre as modalidades de baile funk, o “baile de corredor” foi, sem dúvida, o evento que expôs o lado mais cruento da história do funk. No entanto, ele não foi o único e nem o primeiro acontecimento lamentável envolvendo o “batidão”. O “baile de corredor” apenas evidenciou dois aspectos, a violência e a criminalidade, que têm uma longa convivência no universo do funk. De modo que o escândalo que tomou contra a sociedade (da mídia, em particular) ao “descobrir” a existência dessa modalidade de baile não apontava para um fato novo, no mínimo não correspondia ao que sentiam aqueles que residem em regiões periféricas da cidade.

  • Trenzinho no baile funk

Trenzinho é uma dança onde várias pessoas dançam uma atrás das outras onde formam uma fila, sendo que se tem um contato íntimo muito próximo. Algumas mulheres dançam sem trajes íntimos, mas não significa que o trenzinho possa ser taxado apenas de uma dança com apologia ao sexo, portanto não tem essa de que vai sempre engravidar. Na maioria das vezes é apenas diversão.

Mulheres no Funk

Em tempos atuais, o funk território comandado somente pelos homens, vem dando espaço também para as mulheres. Elas entraram nesse mundo para dar seu grito de liberdade e expressar opiniões contrárias aos homens, que em algumas letras de funk, as taxam de cachorras, vadias, dentre outros apelidos vulgares.

Na metade da década do ano de 2000, duas cantoras ganharam notoriedade na mídia nacional. É o caso de Deize Tigrona e Tati Quebra Barraco.

Deize que foi nascida e crescida em uma favela carioca e moradora da Cidade de Deus, ficou conhecida como Deize da Injeção, por causa de uma de suas músicas, Injeção, que agitava os bailes cariocas.

Já Tati, seu escracho explícito, já acoplado ao codinome Quebra Barraco (transa, na gíria funk), arranca aplausos nos bailes de subúrbio e nas cintilantes passarelas da elite. Para contagiar públicos tão distintos, abusa das letras apimentadas, que descrevem preferências sexuais sem pudor. Fora dos palcos, no entanto, que foi mãe aos 13, se revela acanhada com a fama. Seu maior sucesso foi a música, Boladona.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O preconceito contra o Funk

Existe, em correntes ideológicas de esquerda, a máxima de que o "Capitalismo Selvagem" gera o preconceito e joga o homem contra o homem. E desde as sociedades mais antigas (e, consequentemente, pré-capitalistas) o preconceito caminhou entre nós. O ser humano sempre nutriu uma postura defensivo-ofensiva para com o diferente, o outro, algo que, infelizmente, em pleno século XXI, ainda não foi superado e, ainda se tem dúvidas se algum dia o ser humano será capaz de superar este desvio.

" O funk e o rap incomodam, vieram de baixo e vieram para ficar, incomodam porque não nasceram de uma elite cultural "

O preconceito já se deu na esfera racial-étnica, na esfera econômico-social, na esfera da fé e, mesmo sem ter desaparecido nessas esferas, o vemos com muita força também na esfera cultural, uma esfera cheia de estigmas. O rock é o som do diabo, o axé é a música dos ignorantes, o pagode é a trilha sonora dos cornos e mal amados, sertanejo é música de caipira, assim como o forró é coisa de paraíba. O rap é coisa de bandido e o funk, obviamente, é coisa de drogado. Tantas são as máximas e todas com a mesma alteridade, podíamos ficar aqui escrevendo linhas e mais linhas só com taxações preconceituosas contra algum estilo musical. Todas tendo em comum o fato de reconhecer o outro estilo, mas não o reconhecendo como uma legítima manifestação cultural.

Se analisarmos o papel da música na história, principalmente na história do Brasil, vemos que, ao longo do século XX, a realidade brasileira foi cantada em diversos gêneros como forma de protesto e sobrevivência cultural. E se formos ainda mais a fundo, vemos que todos os estilos nascidos, ou que migraram para tal forma de expressão, sofreram o preconceito e/ ou repressão. O samba não era bem visto em seu nascimento, a ditadura militar reprimiu com violência (não apenas física) os que cantavam contra sua existência, a própria geração do rock 80 era mais associada com o preconceito em suas origens: Renato Russo era o viado, Cazuza, o drogado... em vez de valorizar os artistas, os adjetivos que os acompanhavam, em geral, eram depreciativos e preconceituosos.

Com o funk e o rap não poderia ser diferente. Um nasceu nos morros do Rio de Janeiro, o outro na periferia de São Paulo. Ambos surgiram expondo uma realidade social que a sociedade, de uma maneira geral, tenta não ver. Quem não lembra de versos como "eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci" ou ainda "era só mais um Silva que a estrela não brilha, ele era funkeiro mas era pai de família"? Gêneros musicais ligados a uma população de baixa renda, à desigualdade social, e que foram se moldando (e até se popularizando) com o tempo mas sem jamais deixarem de ser alvos dos mais variados tipos de preconceito.

O funk e o rap sofrem com a taxação de ser música de pobre, de bandido e afins mesmo tocando em bairros como Ipanema, Morumbi, Leblon. Essas taxações nada mais são do que demonstrações da mais pura e simples alteridade. Alguns se acham inteligentes demais para ouvir/ gostar de funk e rap, outros se acham cultos demais para tal, mas a realidade é que toda essa "superioridade" intelecto-cultural não passa de limitação intelecto-cultural e o mais puro preconceito. O caso do funk do Rio de Janeiro é ainda pior, pois se o rap é a música dos bandidos, o funk é ligado diretamente ao tráfico de drogas e tudo que a sociedade tenta esconder. Além de sofrer um preconceito sócio-criminal, o funk, recentemente, em uma de suas mudanças, atraiu para si mais um estereótipo: o da vulgaridade e das "péssimas" letras.

Ora, em primeiro lugar, nem todo funk é vulgar, ainda existem funks que não falam de sexo e violência, ainda que estes sejam a maioria. Em segundo lugar, não é o funk que vulgariza a sociedade, mas sim a sociedade que se vulgarizou e contagiou o funk. A televisão está cada vez mais apelativa, com pouca roupa, muitos seios, sexo e violência no horário nobre. Nossas crianças assistem a uma infinidade de animações japonesas com personagens com suas saias curtas, roupas decotadas, carregadas de apelo erótico e mensagens subliminares. A sociedade se vulgarizou e a música reflete a sociedade da qual ela é oriunda.

Em terceiro lugar, se for para se pautar pela qualidade da letra, o heavy metal, com suas músicas de "o mal está vindo", "satanás voltou", estaria morto e enterrado. A maioria das músicas internacionais, em um país onde a minoria consegue estudar um idioma adicional, nem tocaria nas rádios e baladas. Aliás, quem é que sabe o significado de todas (eu disse todas!) as músicas que ouve de bom grado? Quem é que para de dançar na balada para compreender ou porque compreende e se repudia com a letra de uma música internacional?

O rap e o funk são legítimas manifestações culturais, nascidas dos morros e periferias que se disseminaram por toda a sociedade. O funk, em especial, é um ritmocontagiante, dançante e alegre (quem é que chora ouvindo um funk?). Os dois gêneros incomodam, vieram de baixo e vieram para ficar, incomodam porque não nasceram de uma elite cultural, incomodam porque, como diz um funk não muito antigo que em sua letra combate o preconceito contra o gênero, "é som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado", tá ligado?

O Funk no Brasil

O funk hoje é, sem dúvida, um fenômeno musical genuíno das favelas cariocas. Sendo este o pano de fundo, requer, por sua vez, um percurso histórico mínimo para compreensão mais ampla do processo de surgimento dessa realidade.

Na década de 70, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro, os bailes de música soul, eram realizados em plena zona sul da cidade, na casa de espetáculos Canecão. Esses primeiros bailes, chamados “Bailes da pesada”, foram realizados pelo locutor de rádio conhecido como Big Boy e o discotecário Ademir Lemos, duas figuras lendárias para os funkeiros e foram os responsáveis pelos Bailes da pesada, que reuniam cerca de cinco mil dançarinos de diferentes bairros da cidade. Com a transformação do Canecão em espaço nobre da MPB, não demorou muito para os “Bailes da pesada” serem transferidos para os clubes do subúrbio carioca. A partir de então, esses bailes passaram a ser realizados a cada fim de semana num bairro diferente, favorecendo o surgimento de novas equipes de som que animavam pequenas festas e descentravam os grandes bailes.

Como já mencionado essas equipes de som tocavam diversos estilos musicais, porém com o passar do tempo consolidou-se a supremacia do soul, ou seja, do funk, (que devido a dificuldade que os discotecários cariocas dessa época tinham para obter informações, fez com que eles continuassem a chamar de soul a este estilomusical, enquanto nos EUA já era usual a palavra funky para se referir a esse ritmo. Paulatinamente o termo funk foi se consolidando como nome mais adequado para identificar esse ritmo) este estilo mostrou-se mais apropriado para animar a galera. As músicas tocadas nos primeiros bailes eram todas americanas e o soul conquistou gosto por ser o ritmo mais dançante, como atesta Messiê Lima, um notório discotecário da época.

O período que corresponde à segunda metade da década de 70 foi um dos momentos de glória para os bailes soul, para as equipes de som que promoviam bailes todos os dias da semana, sempre lotados. Equipes de som como a Soul Grand Prix, Revolução da Mente, Black Power, Atabaque, Furacão 2000, dentre outras, conquistaram fama e dinheiro nessa época. As mais famosas dispunham de dançarinos itinerantes, que acompanhavam a equipe onde quer que ela fosse, isso possibilitava tanto a troca de informações entre os dançarinos como a divulgação de sucessos, de coreografias, do calendário de apresentações e de estilos de roupas que estavam na moda entre os dançarinos. Só mais tarde surgiram os prospectos e os programas de rádios que facilitaram a circulação de informações para fãs do soul.

É dessa época a fase denominada pela mídia carioca de Black rio, um movimento desencadeado em promover bailes com o caráter pedagógico de introdução à cultura nega, uma estratégia para despertar o orgulho de ser negro no Brasil que incluía ainda a adoção de estilos de cabelo e de vestimenta. Esse movimento não era por sua vez autenticamente brasileiro, na verdade era uma tentativa de importar modelos usados pelos movimentos negros norte-americanos. A proporção do movimento Black Rio pela mídia foi um dos raros momentos que o universo dos bailes funk foi tratado com alguma seriedade pela sociedade, embora muitos tentassem apropriar-se política e/ou comercialmente desse fenômeno. Mas esse movimento não prosperou por dois motivos: primeiro, porque o funk perdia as características de pura diversão e passava a se construir um movimento político de superação do racismo; e segundo, porque a polícia do regime militar achava que por trás das equipes de som existissem grupos clandestinos de esquerda de forma que alguns discotecários ligados ao Black Rio chegaram a ser presos.

O aparecimento do Black Rio na mídia despertou o interesse comercial das grandes gravadoras do país por esse movimento, assim a diversão foi transformada em lucro, dado o imenso mercado inexplorado composto por milhares de consumidores sedentos por funk. Os primeiros discos lançados levavam o nome das equipes mais famosas, começando pelo LP Soul Grand Prix depois chegando a vez das Dynamic Soul, da Black Power e mais tarde da Furacão 2000. As gravadoras tentaram também criar um soul nacional, produzido por músicos brasileiros e cantado em português, mas não tiveram sucesso, foi um fracasso de venda, com duas exceções a parte como é o caso de Tim Maia e Sandra de Sá. Aos poucos, as gravadoras foram deixando de lado a Black Rio argumentando que o publico de funk no Brasil não possuía poder aquisitivo suficiente para comprar discos. Assim encerra-se o período da disco-funk, embora grande parte da juventude suburbana continuasse ouvindo e dançando a soul music norte americana, sobretudo o funk melody, um estilo sem o peso do funk comum e mais melodioso, conhecido como charme.

Na metade da década de 1980, algumas rádios passaram a divulgar os bailes e a tocar funk em programas especializados. Nesse período os discotecários estavam tocando mais charme. O retorno do funk foi paulatino e trouxe consigo algumas inovações, como a dança em grupos e uma nova forma de vestir, bem distante do estilo difundido pelo movimento de orgulho negro dos anos 70. Os jovens do funk no Brasil dos anos 80 adotavam o estilo surfwear (Bermudões e camisetas coloridas com desenhos de ondas, pranchas de surfe e logotipo das lojas, tênis muitas vezes sem meias, e outros detalhes que nada tem a ver com o estilo dos surfistas, como bonés, toucas e inúmeros cordões de prata ou imitação de prata).

O estilo surfwear usado pelos jovens freqüentadores do baile funk, via de regra, suburbano, era uma tentativa de imitar os jovens de classes mais altas. Quanto a vestimenta feminina, não se tem uma característica marcante, só mesmo um olhar mais atento para identificar alguns estilos mais predominantes como saias muito curtas, calças justíssimas realçando o corpo da dançarina, também se notou uma preferência por bustiês colantes e camisas curtas que deixem as barrigas de fora.

No mesmo período em, que o funk no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro tem a sua retomada (consolidando-se como “funk carioca”), observa-se na periferia da cidade de São Paulo, sob influência da mídia e da industria cultural, a cultura hip hop começa a se manisfetar através dos ‘bailes blacks”, onde aparece a dança “robotizada” dos breakers, o rap (funk falado) e nomes como o de Nelson Triunfo, considerado o pai do hip hop no Brasil, o grupo Racionais MC’s.

O funk e a cultura hip hop, embora tenham origem comum, aqui no Brasil adquiriram algumas particularidades. A experiência paulista parece ter preservado as raízes musicais e ideológicas da cultua hip hop. O rap paulista manteve a característica de veículo de informação e denúncia, ou seja, a música desse modo, mais que uma via de inserção social, tornou-se, sobretudo, a expressão de uma postura radical de contestar as estruturas vigentes, constituindo assim o “discurso engajado”, como é chamada essa postura no universo hip hop.

Na experiência carioca aquilo que deveria chamar cltura hip hop reduziu-se ao funk. Do ponto de vista estritamente musical, o que se conhece hoje como “funk carioca” seria na verdade um desdobramento do miami bass (Tipo de música feita na cidade de Miami, que tem como base o ritmo e não seria ligado ao hip hop, isto porque usa como base a bateria eletrônica e o samples de músicas da soul music).

Na década de 80 o movimento funk carioca, sob influência do miami bass, se consolida adquirindo um ritmo parecido ao do rap, porém com batidas graves, acentuadas e mais rápidas, reafirmando a proposta de ser algo mais alegre e dançante. A descoberta da possibilidade de usar a bateria eletrônica baseada numa batida funk ritmo miami, a inserção linguagem do morro, as gírias da favela, faz brotar o “funk carioca”. Certamente foi por estes motivos que o ritmo funk conquistou, sobretudo, a juventude da periferia dos grandes centros urbanos.

Desse modo, o funk tal como ouvimos hoje é bem diferente daquele que animou a primeira geração de fãs na década de 70, tanto em ritmo, quanto em posicionamento ideológico.

Em 1989, o DJ Malboro, um dos grandes responsáveis pelo processo de nacionalização do funk, inovou o estilo musical funk ao utilizar bateria eletrônica, teclados com sampler e introduzir elementos musicais originários do samba, como o atabaque e o tamborim. Algumas gravadoras se propuseram a lançar o funk no mercado, com isso os funkeiros obtiveram espaço na mídia e alguns tiveram a chance de participar de programa de televisão. Nesse período os primeiros nomes do funk nacional (entenda-se funk carioca) começaram a ganhar destaque e fama.Bastava lançar uma música que caísse no gosto da galera para em seguida virar sucesso e transformar anônimos em celebridades instantâneas, que logo depois voltavam à obscuridade.

História do Funk

O funk é um fenômeno cultural com a origem na história da música negra norte-americana e domina um tipo muito específico de música, que descende dos lamentos negros e rurais que deriva de outros estilos musicais como o blues, o rhythm’n’blues e o posterior soul.

Considerado o pai do funk, o músico norte-americano Horace Silver uniu o jazz à soul music nos meados dos anos 60, mais precisamente na cidade de Nova York, no bairro do Bronx, e começou a difundir a expressão “funk style”. A origem da palavra funk significa: FUN = FUNKE, que por fim FUNK. Palavra inglesa que significa todo mundo junto, diverção e embaraço.

Nessa época, o funk não tinha sua principal característica, o swing. E foi somente depois com o cantor norte-americano James Brown que o estilo tornou-se dançante no mundo.